O senso comum define o profeta como aquele que prevê o futuro. Isso é uma das suas habilidades, porém, o profeta é aquele que essencialmente está falando em nome de Deus. É aquele que, tomado por uma profunda experiência espiritual, compreende os desígnios eternos. 

Segundo o Rabino Abraham Heschel, o profeta é uma pessoa, não um microfone, ou seja, cada um deles tinha o seu tom de voz, pois nos tempos idos de Israel, havia profetas que eram poetas, estadistas, patriotas e pastor de ovelhas. 

Há uma outra faceta que compõe a prática profética, a capacidade de anunciar outros mundos possíveis, ou seja, eles não são videntes e astrólogos, mas são aqueles que imaginam outras realidades. Parafraseando o músico Nando Reis (na canção, “Relicário”), é um tipo de pessoa que percebe que o mundo está ao contrário e que ninguém reparou; e ao perceber o óbvio, se esforça para modificá-lo. 

Professores e Professoras são profissionais que precisam desenvolver suas habilidades proféticas, isto é, serem audaciosos para apresentarem uma visão de mundo alternativa, uma perspectiva que dê chances aos seus alunos de pensarem novas possibilidades existenciais. 

Professores e Professoras, quando tomados pelo senso profético, interpretam o presente e antecipam o futuro. Mas, que tipo de futuro? Uma ambiência onde habita justiça, paz, igualdade e comensalidade. Um horizonte utópico que os profetas hebreus chamavam de Reino de Deus, e que pode atender por outros nomes: Sonho de Deus; A Revolução de Deus; A Conspiração Divina, ou Bem Viver. 

No dia 28 de abril, celebramos o Dia da Educação, uma data importante para refletirmos sobre o impacto da educação na transformação de pessoas e territórios. Para muitas crianças e adolescentes em situação de pobreza extrema, a educação é a porta de acesso para um outro mundo imaginável, onde haja oportunidade de renda, emprego e moradia digna. Outro mundo que desafia a noção da qual se crê que o inferno é aqui.

O papel do educador como profeta é fundamental na luta contra a pobreza e a exclusão social. O profeta é alguém que tem a capacidade de ver além do ordinário, por isso ele trabalha com palavras e práticas que viabilizam o florescimento da esperança em seu território de atuação. O profeta mostra que nos ensinaram uma mentira na qual acreditamos, assim ele traz a público a possibilidade de um novo começo, realçando a beleza, dignidade e potencialidade de cada ser humano. O profeta é alguém que não tem medo de sonhar e de inspirar os outros a sonhar. É alguém que acredita que é possível alterar a realidade e que trabalha incansavelmente até a implementá-la.  

É isso que os educadores precisam fazer todos os dias: sonhar, inspirar e trabalhar em favor de um outro jeito de ser gente. Eles precisam acreditar que é possível impactar o mundo dos seus alunos e alunas e construir um futuro melhor para todos. Nesse sentido, a educação em uma comunidade vulnerabilizada precisa ir além da transmissão de conteúdos, é necessário ser um processo de conscientização, no qual crianças e adolescentes se tornem sujeitos da própria história, capazes de compreender a realidade em que vivem, e de agir para mudá-la.

Sejamos profetas da educação, inspirando e guiando crianças e adolescentes para um futuro melhor; um futuro onde o nosso legado seja uma sociedade mais justa, igualitária e etnicamente diversa.

*Vladimir de Oliveira (carinhosamente chamado de Vlad), é Pastor na Igreja Cristã Redenção Baixada e atua também como Coordenador Pedagógico e Articulador Social na Casa Semente, que fica em Jardim Gramacho, Duque de Caxias, RJ.