Para entender o Jardim Gramacho você precisa estar com uma fina sandália de borracha nos pés. Ao entrar no barraco de madeira, será preciso atravessar tábuas improvisadas que servem de piso sobre o esgoto e a lama. Dentro do cubículo de tijolos aparentes, entram pequenas faixas de luz pela única porta do imóvel. Todos os seus itens são: geladeira, fogão, pia, cama e um pequeno armário. Não tem mesa para comer ou para estudar, quartos ou banheiro. Até o momento, você divide a cama com sua mãe ou com os irmãos. Esse é o retrato da vida de mais de 60 crianças atendidas pelo projeto diaconal Casa Semente, no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
A iniciativa se instalou em Jardim Gramacho logo após a desativação de um lixão que permaneceu por 35 anos no bairro. As famílias, em sua maior parte, formada por ex-catadores buscam novos empregos ou subempregos e as crianças após o horário escolar ficam nas ruas. O contexto geral é desafiador: alta taxa de mortalidade infantil, o maior índice do Brasil de adolescentes grávidas e, segundo o último Censo da Educação Básica do município, 70% dos alunos do 3° ano do ensino fundamental não sabem sequer ler um texto.
A fim de enfrentar o enorme déficit educacional no bairro, a equipe da Casa Semente investe na alfabetização básica. Segundo a pedagoga da Casa, Fernanda Félix, o maior desafio é motivar, aguçar e despertar o interesse do aluno, que já vem marcado negativamente após muitas tentativas frustradas nas escolas públicas do bairro. Para isso, diversos voluntários se empenham na linha construtivista e sócio-interacionista da pedagogia. “Esse processo de ensino-aprendizagem lúdico, aliado a alimentação balanceada, apoio da família e afeto, é o que têm motivado o aprendizado. Perceber o quanto esses alunos têm se apropriado do universo da leitura e da escrita é notório para a escola que frequentam, familiares e voluntários”, comenta a pedagoga.
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